Eu me sentia perdida do tempo naquela cama de hospital, as horas nunca passavam e depois do médico não receitar mais os anestésicos para dormir, eu praticamente ficava o tempo todo acordada. Eu ficaria aqui até a quinta feira em observação - como sempre dizem os médicos – e em dois dias minha família inteira já havia me visitado. Sem exageros, minha mãe realmente queria que todos ficassem sabendo. Bom, eu acho que eram dois, na minha cabeça, já era segunda-feira. Sofia havia vindo uma vez e me ligado várias vezes, ela estava sendo muito atenciosa. Já Maísa não pôde vir, sua mãe não queria que ela viesse até o hospital por causa do clima ruim que é aqui, mas ligou muitas vezes também, acho que para recompensar. Acho que a mãe dela está certa, eu também não gostei nada do clima. Pensando, repensando, e foi quando notei um anel na pequena e branca mesa de cabeceira. Era estranho e diferente.
“O que esse anel está fazendo aqui?” – Foi o que eu perguntei pra enfermeira que acabara de entrar no quarto. Acho que nós estávamos nos dando bem, ela era a única que me tirava do tédio. Seu nome era Angélica, já era casada mas não tinha filhos e gostava muito de Dança de salão – informações que trocamos nas nossas horas de conversas. Ela respondeu “Esse anel é a marca registrada do seu herói. Ele ou ela deixou cair na hora que ajudou a tirar você do carro.”
Tá aí uma coisa que eu estava disposta a descobrir, como assim uma pessoa salva minha vida e não fala quem é? Será que o anel foi deixado de propósito? Talvez. Ou talvez, a pessoa não queria mesmo ser identificada e em um descuido deixou escapar essa “pista”... E agora? Eu teria que descobrir, pois precisava agradecer por salvar minha vida.
Após a saída de Angélica, fiquei com meus pensamentos, e acho que era a única vez que estava sozinha. Mamãe não me deixava só até eu convence - lá de que ela precisava comer algo, e assim eu aproveitava pra colocar as coisas na devida ordem na minha cabeça.
A essa altura não é surpresa que o meu primeiro pensamento foi em Andréas, já era de costume pensar nele. Não exatamente O QUE eu pensava sobre ele, mas só sei que me fazia bem.. Mas ele não apareceu desde a única vez que veio? Será que aconteceu alguma coisa? Queria ter a oportunidade de conversar com ele, porque, mesmo sem dizermos claramente, a gente sabia que tinha algo que nos ligava. Acho que eu estava começando a gostar dessa história. Até minha mãe disse que quando ele veio, parecia muito preocupado e que não saia do meu lado.. até eu acordar.
Eu já pensava nele como uma caverna pra onde eu poderia fugir, longe de todo mundo... realmente um porto seguro. Só mais três dias, eu pensava. E tudo volta ao normal. Só mais umas 72 horinhas, e talvez minha vida mudasse completamente de como era antes, talvez... E eu estava mais ansiosa do que nunca pra que isso acontecesse.